Luciano Siqueira *
Nas eleições gerais deste ano, tanto em plano nacional como nos estados, formam-se frentes partidárias muito amplas, reunindo correntes políticas que frequentam praticamente todo o espectro partidário. Em torno da candidatura da ex-ministra Dilma e de candidaturas a governos estaduais melhor situadas, aliam-se a partidos de esquerda e de centro agremiações de perfil nitidamente conservador, tradicionalmente pertencentes a hostes adversárias.
Descaracterização dos partidos? Distinção entre esquerda e direita borrada? Sim, se olharmos o fenômeno apenas pelas suas aparências. Não, se compreendermos o sentido e a serventia de coligações amplas e diversificadas como elemento constitutivo da correlação de forças. Funciona aí o postulado tático leninista de partir da unidade das forças mais consequentes, atrair forças suscetíveis de serem atraídas para o nosso campo, neutralizar outras tantas passíveis de serem neutralizadas e isolar e enfraquecer o inimigo principal.
Isso vale para a guerra, vale para movimentos de ruptura com a ordem vigente, assim como para pelejas eleitorais e até para a luta social cotidiana. Alguém tem dúvida de que, deflagrada uma greve, aos grevistas interessa que não compareçam ao trabalho até pelegos e bajuladores do patronato, seja pelo convencimento momentâneo, seja através de piquetes?
A frente constituída em torno de Dilma, por exemplo, se aglutina com base numa plataforma (ou programa) à qual todos aderem, mas nem todos com ela se comprometem plenamente – mas ao invés de reforçarem o exército adversário, combatem ao nosso lado. Seria uma inconsequencia empurrá-los para o campo inimigo e pedir que atirem contra nós!
E o PCdoB nesse ambiente? Sente-se confortável, preservando entretanto sua independência. Comparece à luta com fisionomia própria, que se traduz tanto na defesa firme da plataforma unitária da ampla frente (e aí já se vê uma marca dos comunistas), como na abordagem dos temas específicos de campanha e na eleição de seus candidatos – este último dado essencial do desempenho partidário no mapa eleitoral.
Dito de maneira mais simples, é como se num mesmo recipiente onde se encontram os vários componentes da água, o PCdoB, que nem óleo, esteja junto porém diferenciado, autônomo e visível aos olhos dos trabalhadores e do povo.
Mantida essa postura, nada a temer ao se inserir nas coligações partidárias, por mais amplas e heterogêneas que sejam.
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